A vida ensina-nos a sorrir, a chorar, a sentir a alegria, a tristeza e a dor. Ensina-nos, também, a existência da morte, mas não nos deixa mostrar, plenamente, as emoções que esta nos provoca.
Isabel estava imparável naquele ao almoço... Suspirava pelas férias que tardavam em vir, falava compulsivamente do seu trabalho, do chefe que não possuía as competências necessárias para o cargo que desempenhava, do colega e suposto amigo do chefe que lambia as botas deste visando uma promoção, do salário baixo, do cargo que sonhava ocupar, mas do qual foi afastada por circunstâncias que não previu…
Eu escutava-a e a medida que o tempo passava senti-me dividida… Se por um lado dava-lhe o meu ombro e partilhava da sua dor, por outro lado, sentia uma vontade imensa de a sacudir, de a fazer reagir, de acordá-la para aquilo que para mim mais interessava e era importante.
Mas, percebi que Isabel considerava muito importante as perdas que vivenciara no seu serviço. Que, aquelas perdas representavam a morte de algo pelo qual nutria sentimentos que valiam o choro e o lamento. Percebi que queria fazer o luto do que sentiu em todos os momentos maus vividos no trabalho e também, da dor que lhe causou o sonho roubado.
Sentada diante dela, à mesa, naquele espaço onde habitualmente almoçávamos, permaneci calada, enquanto a escutava. Mas, a parte formatada da minha mente rebelava-se, até que, por fim… voei! Dei comigo a pensar que raramente nos permitimos sentir o luto, seja ele nosso, ou dos outros.
Cada vez mais evitamos chorar em público, pela morte ou pelas amarguras da vida. Com a voz firme disse à Isabel: “Se quiseres chorar, chora. Acumular a dor não faz bem.” E ela assim o fez!
Vivemos a época em que manter o Pensamento Positivo parece ser sempre a melhor solução… para tudo! Como se não nos fosse permitido derramar uma lágrima ou erguer uma estátua, ainda que por momentos, por aquela dor que nos ocupa, quando algo ou alguém se vai da nossa vida, ou ainda quando um sonho nos é roubado.
Devemos poder chorar, sim!... sem vergonha, até ao limite das nossas forças, e após, dentro do nosso tempo, ressurgir renovados, das cinzas!
Estamos continuamente a espera de ver lidar as emoções de uma morte, como guerreiros, como gente ganhadora, como autênticos corredores de asfalto que alcançam, sempre, um troféu, no desafio pírrico que muitas vezes a vida, o é.
Chorar Faz Bem! Muitos o fazem, em silêncio, escondidos até, talvez para não sofrerem a censura externa, e outros escondem-se porque não conhecem outra forma de chorar. Antes não era permitido ao homem chorar… em público.
Agora, também as mulheres não o podem, ou não o devem fazer… em público! E também não devem lamuriar-se… como a Isabel, porque se tornam inconvenientes e indesejadas. Estamos formatados para aceitar, apenas, o lado bom da vida, o que nos faz sorrir. Mostrar o luto após uma morte não faz parte!